quinta-feira, 4 de setembro de 2008

ATRAC participa de discussões na disciplina de Antropologia 3

Na próxima segunda-feira, dia 08 de setembro de 2008, às 7:45h, Tina Rodrigues, representante da Associação dos Travestis do Ceará (ATRAC), estará ministrando palestra na sala 36 do Centro de Humanidades da UECE
O evento faz parte da programação da disciplina que, ao longo do semestre, vem convidando vários representantes de diversos movimentos sociais. No último dia 25 de agosto, recebemos as lideranças do Movimento Negro, Paulo Rogério e João Aldemir. No final de setembro, o prof. Nildo Bento de Matos, presidente da Associação dos Professores Indígenas Tapeba (APROINT), também irá palestrar no espaço da disciplina.

Quem desejar participar do evento, pode confirmar a presença aqui no blog (comentários).

Para mais informações sobre a ATRAC, acesse o site http://www.atracbrasil.org.br/

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Cineclube das Ciências Sociais apresenta Orí


Acontecerá, no dia 03 de setembro de 2008, às 9h30, mais uma exibição do Cineclube de Ciências Sociais. Desta vez, será apresentado o filme Orí, de Raquel Gerber. Após o filme, haverá um debate com Pai Olutoji, sacerdote de Candomblé, e Igor Monteiro, mestrando em Sociologia (UFC).
Essa programação faz parte da "Mostra, Negro! - Olhares sobre o negro no cinema nacional".



Para mais informações: Bruno Sampaio (8867.2165) e Emmanuel Bastos (8832.1603)


"Orí", a visão de uma raça em um filme-tese sobre a cultura negra*
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"Orí" significa "cabeça" - consciência negra na sua relação com o tempo, a história e a memória - um termo de origem yorubá, povo da África Ocidental. Assim, numa definição mais sucinta pode-se dizer que "Orí" fala da memória e da busca da autoimagem do negro na modernidade. O encontro de Raquel Gerber com a historiadora negra Beatriz Nascimento, com seus estudos sobre a ideologia dos Quilombos (estabelecimentos guerreiros e sociedades iniciáticas que existiram por séculos desde a abertura da floresta equatorial africana pelos Bantus até seu estabelecimento na África Centro Ocidental e sua recriação no Brasil como forma de resistência, desde o Quilombo dos Palmares no século XVII), foi que possibilitou um mergulho tão profundo numa questão cultural até hoje insuficientemente estudada - não só no cinema, mas também nas universidades.
Orí aqui se trata de um documentário de características especiais, abordando os movimentos negros no Brasil e na América, a partir de 1977 e através de suas lideranças, o filme discute pensamentos e ideologia. Resultado de 10 anos de um trabalho sério e dedicado de pesquisa da socióloga, professora, pesquisadora e cineasta Raquel Gerber, 43 anos, preocupada em reconstituir através de um filme rodado em vários Estados do Brasil (São Paulo, Minas, Alagoas, Rio) e África Ocidental (Senegal, Mali e Costa do Marfim) uma visão do negro e sua identidade cultural.
Justamente pelos propósitos com que foi concebido, "Orí" - superando os problemas de sonorização e mesmo montagem - interessou os organizadores dos mais importantes festivais culturais de cinema em inúmeros países, a começar pelo Yamagata Internacional Documentary Film Festival, Japão.
Independente de vários outros aspectos - o sentido de líderes dos movimentos negros - "Orí" tem especial atração na parte musical. Nana Vasconcelos, percussionista pernambucano que vive há mais de dez anos no Exterior, parceiro de Egberto Gismonti em discos de primeira categoria, ele próprio solista de uma gravação com a Filarmônica de Berlim, criou uma trilha sonora magnífica, integrada aos propósitos do filme-documento que Raquel realizou. As imagens também mergulham em ritmos negros da América, resultado da diáspora dos negros, indo das escolas de samba de São Paulo (especialmente a Vai-Vai) até o soul, funk e reggae de Jimmy Horne, Black Rio, Peter Tosh, Jimmy Cliff, Bob Marley e suas influências em Gilberto Gil e, especialmente, a (hoje extinta) Banda Black Rio. Foi filmado no Brasil e na África por fotógrafos da competência de Hermano Penna (diretor de "Sargento Getúlio"), Jorge Bodanzky ("Os Muckers"), Pedro Farkas, entre outros. Só este aspecto do documentário - no registro do Carnaval, dos ritos do candomblé, do poder da terra - já confere a "Orí" um valor especial, compensando o esforço intelectual que representa a sua visão atenta. Não se trata, evidentemente, de um filme de digestiva e fácil absorção, mas é indispensável de ser visto por estudantes de Ciências Sociais, sociólogos, antropólogos, cientistas políticos, filósofos e integrantes de movimentos da raça negra - enfim todos que tem uma preocupação cultural em entender melhor a cultura e presença dos negros no Brasil.
Raquel salienta que "Orí" contou com o apoio de eminentes historiadores, antropólogos, musicólogos, museus e instituições brasileiras e européias para obtenção de iconografia original. Assim, "Orí" pode ser descrito como uma sinfonia de sons e imagens, com significados simbólicos das linguagens que emergem dos propósitos do movimento negro.
O filme revela ainda a emoção da luta pela liberdade do corpo e da alma dos povos da Modernidade do Ocidente: no cotidiano, nas festas, como o Carnaval e nos ritos como o Candomblé (terreiro Ylê Xoroquê), ressaltando o poder da Terra, dos Orixás e dos ancestrais.
Filmes como "Orí" são trabalhos de tese, significando anos de pesquisas, com grande significado para a visão de questões amplas e, até hoje, ainda insuficientemente estudadas.
*Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente no jornal "Estado do Paraná", Caderno ou Suplemento: Almanaque / Coluna ou Seção: Cinema. Página: 8 - Data: 06/10/1989
Sobre Raquel Gerber:
Autora da tese "O Mito da Civilização Atlântica - Glauber Rocha e o Cinema Novo, Cinema e Sociedade" (editado em 1978 pela Paz e Terra) e também de "Cinema Brasileiro e Processo Político e Cultural" (de 1950 a 1978) (Edição Embrafilme, 1982), tendo trabalhado com Paulo Emílio Salles Gomes (na Cinemateca Brasileira), Glauber Rocha, Hector Babenco e Orlando Senna, Raquel realizou entre 1977/81, um outro estudo sobre a cultura negra em São Paulo ("Ylê Xoroquê", 1977/81). "Orí" é um projeto que foi desenvolvido durante 11 anos.